domingo, 26 de maio de 2013

Material didático - solfejo

  No Conservatório de Tours, usa-se três livros por ano, um de solfejo, outro de ritmo e uma obra clássica, dessas versões de bolso. Sobre estas últimas, falarei em próximos posts.
  O livro de solfejo chama-se D'une mélodie à l'autre (De uma melodia a outra) e consiste de 25 canções, dos quais três duos e três trios, de 19 compositores diferentes do século XVII ao XX. A ordem das canções estão em ordem cronológica, fazendo com que o professor escolha a progressão de acordo com a necessidade de cada turma.
Fig 1


  Para os versos, só foi escolhida uma letra, pois o propósito do livro não é cantar com a letra, mas de revelar o ritmo silábico, entretanto, é aconselhado pelos autores que as canções em em língua materna possam ser utilizadas com este propósito, ficando a cargo do professor trazer a música completa.
  A seleção também foi feita considerando o acompanhamento pianístico que ajuda, sem interferir na parte cantada do aluno.

  Na sala de aula, todos tem o material didático original (o meu é emprestado da biblioteca) e a forma como a professora aborda é a seguinte: toda vez que vamos cantar algo novo, ela pede para alguém voluntariar-se, nessa hora todos olham pros sapatos e ela acaba escolhendo alguém (rsrs). O aluno vai pra frente da sala cantar (com nome de notas) em pé  e sem nenhum aquecimento, ela começa a tocar e o aluno tem que se virar na sua parte, isso inclui marcar o pulso, sentir o tom da música e saber se o piano, em algum momento vai ajudar dando sua entrada. Exemplo: na música  n. 17 de Wolf (fig. 2) o piano começa com o acorde de sol menor e o aluno tem que entender que sua primeira nota é a quinta do acorde, depois continua descendo por grau conjunto, passa por uma terça menor, quinta diminuta e segue... Nem sempre o resultado é bom, mas em geral eu considero muito bom para uma leitura a primeira vista. Se teve alguma passagem que o aluno canta muito mal (ou não canta), a professora segue sem parar e só depois de ter acabado a música que ela pede para o aluno voltar e recantar a parte ruim, dai ela ajuda dando alguma explicação, alguma dica, seja um intervalo ou algo que o piano toca.
  Depois que o aluno volta a sentar, todos cantam a música em uníssono uma ou duas vezes. A primeira vez que fui la pra frente foi um horror, mas já estou melhorando (ça va venir!)
Fig 2




  Músicas como Since from my dear de Purcel, temos direito a um fá# pra começar !
Fig 3
Fig 4
 '










  A figura 4 é um dos duos, também não tem boquinha, leitura a primeira vista pras duas vozes ao mesmo tempo e se alguém cantar algo errado, continua que só depois ter acabado vai corrigir. Feitas as correções, canta-se mais umas duas, três vezes.

  A professora não fica presa só ao livro, como os alunos tem um interesse particular por jazz, trabalhamos canções como Fly me to the moon (uma versão em compasso ternário) e All the way, ambas os alunos gostam muito.   
  Também têm as peças corais renascentistas e barrocas a quatro ou cinco vozes com claves originais (Clave de fá na quarta linha, clave de dó na quarta, dó na terceira e dó na primeira), em que as vozes isoladas não são difíceis, mas o resultado final é super bonito. Essas peças normalmente são utilizadas para começar a aula, a professora entrega as partituras, cantamos-a e devolvemos, isso em não mais que 15 minutos.

  O aluno deve se acostumar com esta forma de estudo, pois nos exames finais de fim de ano letivo, será cobrado: cantar três músicas trabalhadas durante o ano de sua escolha, decorada e fazer uma leitura a primeira vista, tendo direito a estudar a música por 5 minutos antes da prova.

  Vale lembrar que esses livros funcionam bem aqui visto que todos os professores de Formação Musical tocam piano (o acompanhamento não é de enfeite).
  


   Eu acredito que falte material didático no Brasil, e que muitas vezes o livro utilizado é ultrapassado (Ex: Bona, Williams ou apostilas com misturas de métodos parecidos).  Há professores que gostariam de ter um material didático mais musical, que pudesse lhe auxiliar em sala de aula, seja em escolas específicas ou escolas de educação básica, mas não há !
  É ai onde entra a Universidade e a pesquisa. Criar um material didático deste porte seria de muita utilidade para muitas instituições, seria um trabalho para cantores e educadores que levaria em conta pesquisa de material já existente e muito repertório BRASILEIRO e clássico (com 'c' minúsculo!).
  Imagina só ir atrás das canções populares, folclóricas e eruditas do Brasil! Pesquisar todo repertório vocal de Villa-Lobos, Carlos Gomes, Tom Jobim, Vinícios de Moraes, Chico Buarque, Alceu Valença, Mozart Camargo Guarnieri, Glauco Velásquez, Gramani, Pe. José Maurício Nunes Garcia (etc, etc, e etc...) e separar isso tudo por ordem de dificuldade ? Ainda bem que o Almir Chedik ja fez metade do caminho pra música popular ! (Fica ai a ideia)
  Tanto trabalho pra se trabalhar, mas no último período da universidade eu só escutava em "Funk carioca dentro de sala de aula, sim ou não? Eis a questão". Deve ser por isso e outras coisas que boa parte de nossos músicos são tão afinados.

  



















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